Estilos de Arquitetura, Design e Decoração - Parte 2
VOCÊ SABE QUAL É O SEU ESTILO DENTRO DA ARQUITETURA?
Oi pessoal :) Aqui estamos continuando nossa conversa sobre as características e diferenças entre os principais estilos da arquitetura e da decoração.
Esta é a segunda parte da nossa matéria, se você ainda não leu a primeira, veja aqui :)
É muito importante você entender como tudo começou, como foi a evolução do processo de projetar e construir dentro de nossa história, então, separe um tempinho para ler nossa matéria inicial que está bem completinha.
Como já comentamos anteriormente, os estilos de projetar foram evoluindo e se transformando, seja por novas técnicas em materiais construtivos ou por influências externas; em cada período surgiu uma nova forma de pensar e perceber a arquitetura. O design e os estilos de decoração, mesmo que cada um tenha suas particularidades e diferenças, caminharam juntos nesse processo.
O tema é longo e envolve muitos acontecimentos históricos, por isso estamos separando somente os pontos mais importantes e relevantes para este estudo.
ARQUITETURA HISTORICISTA E O INÍCIO DO ESTILO ECLÉTICO
A arquitetura historicista, também chamada de revivalista, é um conjunto de estilos arquitetônicos que concentrava esforços em recuperar e recriar a arquitetura dos tempos passados, alguns arquitetos tentavam recriar fielmente os modelos antigos e outros foram menos rigorosos.
O revivalismo foi muito associado à arquitetura eclética. O ecletismo arquitetônico dedicava-se a misturar estilos antigos sem a rigorosidade da arquitetura revivalista, mas muitas vezes torna-se difícil separar os dois estilos.
Já a arquitetura eclética, refere-se ao período de transição da arquitetura predominante no século XIX, especificamente, na transição da era Renascentista para a era Moderna. Consistindo em uma mistura de estilos do passado para criar uma nova linguagem arquitetônica. Por mais que sempre tenha existido uma certa mistura durante a transição de um estilo para outro, esta prática foi mais marcante no período do século XIX até o século XX.
Assim, o ecletismo buscava reviver a arquitetura antiga e gerou diversos estilos "neos" (neogótico, neorromânico, neorrenascença, neobarroco, neoclássico …), ao mesmo tempo, a arquitetura eclética também se aproveitou dos novos avanços da engenharia do século XIX, possibilitando novas construções com estruturas em ferro forjado.
Uma única obra no ecletismo incorporava uma mistura de elementos de estilos históricos anteriores, e em suas principais características estavam a simetria, a busca pela grandiosidade, o destaque para a proporção, o prestígio do luxo, a rigorosa hierarquização dos espaços internos e a riqueza decorativa com ornamentos.
Era um período de experimentação, liberdade criativa e ausência de regras. A capacidade em misturar estilos era muito valorizada. Exatamente por isso, muitos projetos falharam e muitas construções foram alvos de críticas.
Uma das grandes influências da arquitetura eclética foi a arquitetura praticada na École des Beaux Arts de Paris, a cidade mais importante no campo das artes do momento, assim surgindo o estilo "Beaux-arts".
BEAUX ARTS
Com ideias renascentistas, este estilo teve origem na Escola de Belas Artes de Paris, também chamada École des Beaux-Arts, em meados dos anos de 1830 até o fim do século XIX, ele estabeleceu uma linguagem em referência à outros períodos, como o neoclassicismo francês, o gótico e o renascentista e ao mesmo tempo empregando materiais modernos em suas obras, como o vidro e o ferro; Estavam em busca de um estilo autenticamente francês.
A École atraiu estudantes de todo o mundo, entre eles, muitos estudantes de arquitetura dos Estados Unidos que foram estudar em Paris. Dessa forma, o estilo Beaux-Arts teve uma influência especialmente forte na arquitetura americana, em consequência, acabou se tornando uma forte influência por todo o mundo ocidental.
Se caracterizou pela simetria, busca de grandiosidade, rigorosa hierarquização dos espaços internos e riqueza decorativa; estão presentes detalhes clássicos ornamentais, portas e janelas arqueadas, estátuas e esculturas. Muitas vezes lembrando uma infinidade de estilos históricos ao mesmo tempo.
Obra de expressão: O Grand Palais de Paris, aplicou novas técnicas de construção como o uso do concreto armado, aço e vidro. O peso de metal utilizado, foi cerca de 7.000 toneladas, superando o da Torre Eiffel. Foi concebido como Palácio das Belas Artes para abrigar funções específicas de exposições e celebrações de mostras artísticas.
| Imagem :: Grand Palais de Paris | Acesso de imagem em: Pinterest | Curadoria: ZFS |
|| A BEAUX ARTS NA DECORAÇÃO E NO DESIGN ||
O estilo Beaux Arts transpassou para os interiores seguindo os mesmos princípios arquitetônicos: seus interiores eram normalmente polidos e ricamente decorado com esculturas, grinaldas, medalhões, flores e escudos. Muitas vezes, possuindo uma grande escadaria e um salão opulento, além de contar com grandes arcos, rivalizando os antigos arcos romanos.
| Imagem :: Decoração Beaux Arts | Acesso de imagem em: Pinterest | Curadoria: ZFS |
ART NOUVEAU
O período Art Nouveau, ou arte nova já marca um início da era modernista, sendo um movimento vanguardista, iniciou os conceitos de arte aplicado à indústria. Um pouco antes da Primeira Guerra Mundial, seu estilo mudou para formas mais geométricas, caracterizando-se como um novo estilo, o art déco.
Os princípios da Art Nouveau serviram para orientar a produção de diversas áreas, desde a arquitetura à pintura, ao desenho de mobiliários, a tipografia, ilustrações, entre outros.
Se manifestou na arquitetura a partir dos elementos decorativos: os edifícios, repletos de linhas curvas e sinuosas, recebiam ornamentos inspirados em formas orgânicas da natureza como plantas, flores e animais, tanto em termos de desenho quanto no emprego de cor em alguns projetos.
Apesar das construções sobre influência do Art Nouveau terem sido substituídos durante os estilos modernistas do século XX, o período, atualmente é considerado um importante marco na transição entre o historicismo e o modernismo, e é reconhecida a sua importância na transição da sociedade como um todo e sobre as formas de pensamento da humanidade daquele período.
Sua inspiração se deu principalmente por formas e estruturas naturais e orgânicas. Suas obras tiraram proveito dos avanços provenientes da Revolução Industrial, assim o ferro e o vidro estão muito presentes em todas as obras.
O estilo resultou do desejo de afirmação e independência de uma elite, grande burguesia de negócios aliada à aristocracia, que rompe com o estilo artístico “histórico” que o precedeu, neste momento, não há mais distinção entre construção e decoração.
Obra de expressão: As charmosas entradas do Metrô de Paris pertencem à este estilo. Um trabalho do arquiteto francês Hector Germain Guimard em 1900. Foi a obra que revelou ao público o estilo Art Nouveau, até então apenas conhecido pelas classes ricas. Foram construídas 141 entradas, das quais 87 são mantidas até hoje, tornando-se um dos símbolos mais marcantes para os turistas.
| Imagem :: Metrô de Paris | Acesso de imagem em: Pinterest | Curadoria: ZFS |
Obra de expressão: Embora as obras do arquiteto espanhol Antoni Gaudí tenham um estilo orgânico único e individual, suas principais obras fazem parte do estilo Art Nouveau e do modernismo catalão. Sua produção artesanal e ornamental desempenham um papel fundamental na história da arquitetura.
Nas imagens, respectivamente: Casa Batló, situado na avenida mais luxuosa de Barcelona, possui diversos significados em toda sua estrutura, desde concepção de mitos até percepções sobre a vida e a morte. Gaudí se inspirou no ambiente marinho para a concepção do projeto.
O Templo da Sagrada Família, considerada a sua obra-prima, não possui nenhuma linha reta, toda arquitetura imita a natureza. Gaudí faleceu em 1926 com sua obra inacabada. Sua construção iniciou em 1882 e sua previsão de conclusão é para 2026.
| Imagem :: Obras de Antoni Gaudí | Acesso de imagem em: Pinterest | Curadoria: ZFS |
|| ART NOUVEAU NA DECORAÇÃO E NO DESIGN ||
Os objetos são concebidos de forma ornamental, com todos os detalhes inseridos e planejados de maneira minuciosa, elevando o trabalho artesanal à categoria de arte. Móveis, objetos e demais itens que integravam os ambientes eram tratados com o mesmo grau de importância da construção.
No interior das edificações, encontravam-se linhas fluidas, curvilíneas e floreadas, inspiradas nas formas orgânicas das folhagens, flores, labaredas e outros elementos da natureza.
| Imagem :: Decoração Art Nouveau | Acesso de imagem em: Pinterest | Curadoria: ZFS |
A ERA MODERNA
O “moderno”, ou a “arquitetura moderna”, na verdade, é um período dentro da nossa história. Consiste em um conjunto de movimentos e ideias que predominaram na arquitetura durante o século XX.
Antes desse período, os destaques arquitetônicos estavam nas igrejas, catedrais e palácios. A partir do século XVII, com a Revolução Industrial, materiais como ferro, aço e concreto passaram a ser produzidos em escala industrial, o que expandiu as possibilidades na criação de grandes obras urbanas.
Obra de expressão: O Palácio de Cristal, em Londres, foi um dos primeiros projetos que marcaram esse momento na história. Foi considerado um grande sucesso não só pela novidade dos processos técnicos mas também pela criação de um novo conceito de espaço. Era decorado com diferentes cores como o azul, vermelho e amarelo. Atraiu muitos visitantes de todos os níveis da sociedade, até à sua completa destruição em 1936, em um incêndio.
| Imagem :: Palácio de Cristal | Acesso de imagem em: Pinterest | Curadoria: ZFS |
Dentro do modernismo, os arquitetos de maior influência, possuindo o título de mestres do movimento, são Le Corbusier na França, Walter Gropius e Ludwig Mies van der Rohe na Alemanha. Os dois últimos foram diretores da Bauhaus, uma escola de arquitetura e artes aplicadas fortemente orientada para técnicas industriais.
:: A Bauhaus
Foi uma escola de arte vanguardista na Alemanha, sendo uma das maiores e mais importantes expressões do Modernismo na Arquitetura e no Design. Seu principal campo de estudos era a arquitetura.
Fundada por Walter Gropius em 1919, tinha por objetivo gerar uma arte adaptada às necessidades da sociedade alemã do pós-guerra. Criou atrito com a população conservadora pela aceitação de mulheres e estrangeiros nas salas de aulas.
“O objetivo final de toda atividade plástica é a construção! (...) Desejemos, imaginemos, criemos juntos a nova construção do futuro, que juntará tudo numa única forma: arquitetura, escultura e pintura que, feita por milhões de mãos de artesãos, se elevará um dia aos céus como símbolo cristalino de uma nova fé vindoura.” - Gropius. Manifesto da Bauhaus.
Possuía um estilo inovador inspirado por pensamento e ideias utópicas, e conseguiu reinventar os espaços de vida e de trabalho, assim como a maneira como as pessoas se relacionavam entre si e com o ambiente construído.
É importante destacar que a Bauhaus não foi a única escola vanguardista da Alemanha, mas aquela que mais se fazia falar; inclusive pelas dificuldades políticas que precisou enfrentar, como sua expulsão de Weimar, seu fechamento em Dessau, a perseguição nazista e seu último ano em Berlim, além da tentativa de revivê-la nos Estados Unidos. Tais ações mobilizaram muitas pessoas e aumentavam seu poder de expressão, ao mesmo tempo, existiam muitas críticas ao método construtivo utilizado e aos conceitos adotados por seus seguidores, devido às técnicas ainda não testadas e a inadequação climática dos edifícios; além de inúmeros problemas nas edificações construídas.
-- Neste campo a conversa é longa e precisaria de um artigo exclusivo ao tema. Se você quiser conhecer mais sobre a escola e o movimento Bauhaus, aconselhamos pesquisar em artigos científicos e livros técnicos. Tente não se prender apenas em um autor, pois é um tema que envolve uma complexidade de conceitos e opiniões favoráveis e contrários :)
| Imagem :: Escola Bauhaus | Acesso de imagem em: Pinterest | Curadoria: ZFS |
"Os edifícios no período modernista são fortemente marcados pela industrialização, a economia, e a recém-descoberta noção do design."
Os edifícios deveriam ser econômicos, limpos, úteis.
Foi neste momento que surgiram os conceitos: “menos é mais” de Mies Van der Rohe, “forma segue a função” de Louis Sullivan, e “casa como máquina de morar” de Le Corbusier.
|| O MODERNISMO E SUA INFLUÊNCIA ||
Assim como mencionamos acima, o modernismo nasceu em um contexto de mudanças técnicas, sociais e culturais ligadas à revolução industrial, à transição gradual do campo para a cidade, e às novas técnicas de engenharia vindas juntamente com a industrialização do aço e do vidro em larga escala.
Este era um momento fortemente marcado por necessidades de mudanças vindas com o pós-guerra e a busca por uma reconstrução urbana e social das cidades.
Com o fechamento da Bauhaus em 1933, os alunos migraram para outros países, em especial os Estados Unidos, outras localidades da Europa e na América do Sul, expandindo a influência do movimento por todo o mundo.
Le Corbusier criou os cinco princípios da arquitetura moderna, que são:
- Fachada livre e independente da configuração estrutural;
- Janelas em fita, permitindo uma iluminação homogênea;
- Construção sobre pilotis;
- Terraço-jardim, evitando a cobertura tradicional em telhados.
- Planta livre da estrutura.
Em suas características também estavam presentes a geometrização das formas, o predomínio de linhas retas (porém alguns arquitetos trabalharam bastante com formas orgânicas, sempre mantendo as demais características), a simplificação de volumes, o uso de vidro e aço e a abominação de ornamentos.
No Brasil, a arquitetura modernista se desenvolveu com as referências diretas do movimento na Europa, e mais especificamente de Le Corbusier. Entre os nomes de destaque, estão: Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi e Lelé.
Nas imagens, um pouquinho do trabalho de Le Corbusier, para você entender como o estilo modernista foi representado na construção e no design.
| Imagem :: Villa Savoye + Design - Le Corbusier | Acesso de imagem em: Pinterest | Curadoria: ZFS |
As novas técnicas de engenharia do século XIX, justamente com o uso do ferro e do vidro na construção, tornou possível o aumento do número de andares dos edifícios. As mesmas técnicas começaram à ser aplicadas nas residências, possibilitando uma maior liberdade criativa, com o uso de grandes treliças - leves e resistentes, possibilitando assim, a criação de vãos livres e grandes cúpulas, juntamente com a vantagem da agilidade no processo de montagem.
- Foi neste momento que a Torre Eiffel foi criada :)
|| O MODERNISMO NA DECORAÇÃO E NO DESIGN ||
Dentro do design e da decoração, o modernismo se mantinha com os mesmos princípios da arquitetura. O branco tornava-se a cor favorita para todos ambientes seja interno ou externo; intensificou-se o uso do concreto, da pedra, ferro e vidro, as estruturas e sistemas de tubulações ficaram aparentes - lembrando o ambiente fabril, as portas começaram a ser simples e sem nenhum ornamento.
Cores eram usadas em tonalidade viva, como vermelho, amarelo, preto e cinza. Houve uma maior exploração de possibilidades em mobiliários de design aliado com a arte e a busca pela perfeita proporção das superfícies lisas.
Somente eram utilizados móveis para cumprir uma função muito clara, preferencialmente, os mobiliários eram fixos nas paredes, feitos em concreto, garantindo que a proporção e o uso dos espaços seria mantido mesmo com o passar dos anos.
| Imagem :: Le Corbusier / Mies Van Der Rohe | Acesso de imagem em: Pinterest | Curadoria: ZFS |
BRUTALISMO
O Brutalismo foi uma nova forma do Movimento Moderno, impulsionado por Le Corbusier entre as décadas de 50 e 60. Seu apelo é para a honestidade dos materiais, particularmente, o concreto bruto. O período é marcado pelo fim da Segunda Guerra Mundial, e o concreto se apresentava como um recurso de baixo custo, pouco pretensioso, utilitário, democrático e moderno. Além do uso de concreto armado, os materiais utilizados eram o aço, vidro e madeira.
Sendo uma abordagem dentro da era modernista, eram negadas às edificações qualquer ideia de um possível significado além de sua função; nenhum edifício era era nada além do que aparentava ser.
O visual destas construções se assemelham à uma obra inacabada, as estruturas ficavam à mostra, tubulações e demais sistemas aparentes. Criando-se uma valorização da "verdade estrutural".
- O MASP, em São Paulo, é um exemplo brasileiro deste estilo.
Obra de expressão: Unite d' Habitation, Le Corbusier (1952), a construção tinha o foco na vida comunitária para todos moradores, um lugar para se fazer compras, divertir-se, viver e socializar - lembrava uma cidade - com acomodações para 1.600 moradores, criada para diminuir os efeitos do pós-guerra e o déficit habitacional.
Nos anos 1960, a arquitetura moderna espalhou-se pelo mundo, perdendo algumas de suas características e tendo questionada sua vocação progressista.
Neste período a arquitetura modernista passou a ser duramente criticada, o que causou o seu "fim" dentro dos anos 70.
O que é muito importante para você lembrar: O modernismo deixou de existir como movimento da arquitetura desde, pelo menos, os anos 1980. Por mais difícil que seja criar um marco e delimitar o “fim” de um período, a era da pós-modernidade iniciou-se juntamente com a abertura dos mercados e com a revolução digital. Dessa forma, a nossa sociedade não é mais moderna.
É inegável a influência do modernismo em nossas vidas e construções, mas muita coisa aconteceu após a modernidade, continue lendo nosso próximo artigo, pois os próximos períodos e momentos são de extrema importância para compreendermos como nos comunicamos e evoluímos para a sociedade atual.
||| Escrito por :: Vanessa Techio - Arquiteta, urbanista.
Fundadora da ZFS Arquitetura |||
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